Em casa, o soldado quase não pregou olho. Levantou cedo, vestiu sua farda de gala e partiu para a gostosa aventura. Em poucos minutos, estava no endereço indicado. Tocou a sineta anunciando sua chegada. Uma jovem secretária abriu a porta e pediu para o visitante aguardar um instante, enquanto ela ia acordar a patroa. Ainda sonolenta, a senhora disse a secretária que encaminhasse o soldado até a sala de espera. Seguindo as ordens, a jovem mandou o soldado entrar e esperar até ser atendido.
O padreco chegou em seguida. Bateu palmas e aguardou resposta. Quando a secretária olhou pela venesiana e viu o sarcerdote, correu para avisar a madame, sem saber o que fazer diante daquela visita tão importante. Recebeu a mesma resposta dada para o soldado: “Faça-o entrar e leve-o até a sala de visitas.”
Ás onze horas foi a vez do general. Outra vez foi um Deus nos acuda, com a secretária correndo de um lado para a outro e, no fim, pedindo ao militar para entrar e esperar pela dona da casa. Quando o general adentrou o recinto, o pracinha já estava todo perfilado em posição de sentido, seguindo as normas praticadas pelos sulbalternos hierárquicos aos seus superiores. “Fique vontade, soldado. Aqui somos iguais, nada de formalidades da caserna”, devolveu o general. E assim, os três convidados ficaram ali, olhando um para o outro, desconfiados e num silêncio desconfortável.
Quando bateu meio-dia, a madame se levantou, pegou o vidro de perfume, derramou algumas gotas pelo corpo deixando as visitas aspirando aquele odor enebriante e excitante. Vestiu uma espécie de quimono e veio cumprimentar seus três convidados. Pediu desculpas pela demora argumentando ter saído da festa pela manhã. Após as desculpas, foi direto ao assunto principal: “Os senhores desejam saber o nome do perfume que estou usando. Pois bem, só direi ao que melhor me responder a seguinte pergunta: “O que é que tem Brilho, Força e Fortaleza?”
Eis a resposta do General: “O brilho da minha espada. A força dos meus exércitos. E a fortaleza dos meus canhões!” A madame mostrou-se surpresa: “Muito bem gostei da comparação. Agora é a sua vez meu caro Reverendo”. O padre todo acanhado assim se expressou: “O brilho das minha igrejas. A força dos meus sinos. E a fortaleza das minhas catedrais”. “Boa comparação! Agora vamos ouvir o meu caro soldado” pediu a madame ansiosa. O jovem militar com toda irreverência que lhe era peculiar, segurou o botão dourado da farda com o polegar e o indicador e disse: “O brilho do meu botão. A força da minha idade. E a fortaleza do meu tesão!”
A dona da casa com o canto da boca esboçou um sorriso, demonstrando-se satisfeita. Em seguida, disse: “Senhores, o nome deste magnífico perfume é Decú’proar e fui eu mesma que fabriquei.” O espanto tomou conta da sala. Ela continuou: “Obrigado pelo visita de vocês, agora infelizmente tenho afazeres para cuidar.” E os três foram saindo. Quando o soldado ia passando pela soleira da porta, a madame rapidamente interviu: “Você não, soldado. Não está curioso para saber como criei tal aroma?”