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Ai como gostaria que o leitor dessa coluna pudesse colher melhor os frutos brotados da semente que o pensamento plantou. As histórias são reais, são histórias simples de pessoas simples e de coisas simples, onde mesmo as pequenas lembranças ainda persistem, e me tocam profundamente. Estas são as razões porque guardo os ‘Causos’ que escrevo com muito carinho no cofre do coração.

Após esse preâmbulo, vamos deixar os entretantos e partir para os finalmentes, como dizia o saudoso Paulo Gracindo no papel de Prefeito de Sucupira em O Bem Amado.

Nesse momento, estou dando início, a história de uma figura genial: Djalma. Um jovem com seus vinte e poucos anos, estatura mediana, tipo acaboclado e com um pequeno defeito no pé esquerdo. Djalma Pintor, como era bem mais conhecido. Ele era realmente um artista de muito talento. Fosse uma paisagem, um retrato de uma pessoa, um objeto ou qualquer figura, ele reproduzia com impecável perfeição. Era esse o garoto brincalhão que eu conheci na década de 50. Quando não estava trabalhando era encontrado pedalando uma bicicleta que mais parecia um bazar de miudezas ambulante visto a quantidade de enfeites que ele colocava por todos os lados. Um artista imaginoso como Djalma não poderia faltar passagens onde humor e picardia estivessem presentes. Vamos a uma delas:

Aqui em Itapetinga tem um bairro chamado Ponto Certo, apesar da topografia do terreno fazer uma curva. Entre os comerciantes do bairro daquela época havia um que se destacava pelo sortimento do seu pequeno empório, e pelo jeito cativante de receber e tratar os fregueses: Seu José Leão, ou melhor Seu Leão. Certo dia, Djalma Pintor apareceu por lá, querendo comprar qualquer coisa concernente a sua profissão. Ao recebê-lo, Seu Leão todo solicito, perguntou ao nosso artista:

Djalma, por quanto você pintaria um leão bem bonito na frente do meu prédio?

Seu Leão, o preço vai depender da situação do dito animal – respondeu Djalma.

Não entendi direito, como é isso de situação? – retrucou o comerciante.

Bem, eu vou esclarecer tudo direitinho – continuou o nosso artista. Se o leão que o senhor quer que eu pinte ficar solto, é bem baratinho, porém se quiser ele amarrado aí fica um pouquinho mais caro.

Quanto é que custa o baratinho?

Djalma com toda a malícia que lhe era peculiar falou assim:

Um leão solto eu pinto por cem cruzeiros. O amarrado não fica por menos de mil.

Diante da desproporção do preço entre a pintura de uma mesma coisa, ou melhor, de um mesmo animal, Seu Leão não teve dúvida e optou pelo mais barato.

Logo no outro dia Djalma apareceu com os seus pincéis, suas tintas e deu início ao trabalho. Pintou um leão vistoso, bonito mesmo que encantou os olhos do dono da casa comercial.

Djalma, você é um grande e genial artista, a sua pintura está tão perfeita que parece que o animal está vivo e se mexendo. Estou satisfeito e feliz pela obra que você executou – comentou Seu Leão.

E todas as pessoas que por ali passavam sempre paravam para admirar a pintura e tecer elogios. “Que pintura bonita! Com certeza foi Djalma que pintou“, diziam.

Era assim que falavam os críticos da obra reluzente enfeitando a entrada da casa comercial do Seu José Leão. Os dias foram passando e a romaria cada vez mais aumentando para conhecer a obra-prima.

Certa noite um temporal desaba sobre a cidade atingindo em cheio o decantado leão, desmanchando totalmente a bela pintura. Na manhã seguinte restava apenas a parede em branco. Foi um Deus nos acuda, o lamento foi geral. Seu Leão quando percebeu o sumiço da gravura, ficou triste e quase chorando, mandou chamar o pintor.

Quando Djalma chegou, já vinha sorrindo, com se já soubesse tudo que acontecera. Antes de Seu Leão dizer qualquer coisa Djalma procurou dar consolo ao tristonho comerciante dizendo o seguinte:

Olha Seu Leão eu vou pintar outra vez e trazer de volta o animal fujão. Agora o senhor mesmo deve reconhecer que com um toró daqueles de ontem a noite, prá ficar preso na parede de sua casa, o leão tinha que está muito bem amarrado!